terça-feira, 12 de março de 2013

A Viagem





Ela estava exausta. Mais exausta do que jamais poderia ter sonhado em estar. Há dias – que lhe pareciam séculos – se dedicava ao esporte que mais odiava: fazer malas. Não que ela não gostasse de viajar. Adorava. Mas era sempre um suplício pensar em quantas coisas sempre tinha que enfiar na mala. Que podia até ser gigantesca, mas jamais atingia o tamanho que ela precisava para guardar tudo o que julgava necessitar quando fosse estrangeira. E ainda tinha aquele problemão de excesso de bagagem nas companhias aéreas. Um dia – pensou - ia ser rica o bastante para voar somente na first class e não ter que se preocupar com nada além da quantidade de champagne que beberia durante o vôo. Mas como isso ainda estava longe de acontecer caiu das nuvens e tratou de espremer o montinho de biquínis para fazer caber o ferro de passar portátil. Começou a conferir os itens da mala, conforme um checklist que havia feito um mês antes: calcinhas, soutiens, biquínis, pijaminha, camisetinhas, jeans, calça preta, mini-saias, vestidos, sapato fechado, sandálias, tênis, chinelinhos chiques, caixa de jóias, meias, meias finas para uma eventualidade, toalha de praia, óculos escuros, lentes de contato, uma calcinha sexy por via das dúvidas... e na frasqueira (que já devia pesar uns 20 quilos): creme para o rosto, para o contorno dos olhos, para o colo e pescoço, para joelhos e cotovelos, para o corpo. Exfoliante, sabonete líquido, óleo de banho, creme dental, escova de dentes, escova para cabelos, pente, maquiagem completa (com direito a 10 cores de batom diferentes), demaquilante, protetor solar, shampoo, condicionador, silicone para os cabelos, secador de cabelos, prendedores de cabelos...ufa! parecia não faltar nada. Ela fechou a frasqueira com certa dificuldade e olhou para a mala. Com esperança e alguma habilidade, certamente conseguiria vencer a guerra entre as roupas e o zíper... A primeira tentativa foi frustrada. A segunda tentativa lhe rendeu a camiseta que usava banhada em suor. Afastou-se um pouco. Olhou meio de lado para a mala-monstrengo. Na terceira tentativa, apertou a tampa de um lado e puxou o zíper. As roupas lhe escaparam pelo lado oposto... Sentou-se na beira da cama. Dobrou, pacientemente, cada peça de roupa que havia escapado. Ajeitou-as novamente dentro do micro-compartimento preto que chamava de mala. Afastou-se novamente e olhou: engenheira. Quarta tentativa: em vão. Sentou-se sobre a mala e, nesta quinta batalha, ia dando pulinhos com a bunda e fazendo o zíper andar... devagar... meio que pegando de surpresa... E, de repente, não mais que de repente, o zíper fechou por inteiro. Ela, ainda suada, sorria exultante: tinha vencido a guerra das malas assassinas!... Levantou-se devagar, pé ante pé. Caminhou até a porta do quarto e olhou para a mala preta com uma sensação de vitória inconteste. Pelo telefone, chamou um táxi, recomendando para que a viesse buscar às 19 horas, assim teria cerca de 2 horas para se arrumar. Tomou um longo e merecido banho de guerreira. Usou todos os cremes. Uma gota de perfume de cada lado do pescoço. Vestiu-se com vagar, aproveitando cada minuto que ainda lhe restava em casa. Olhou-se no espelho de corpo inteiro, e se achou a mulher mais sensacional do mundo. Empurrou a mala até o hall do elevador. E quando chegou à recepção do prédio, precisou da ajuda do porteiro para arrastar a mala até o táxi vermelho e branco que lhe esperava na calçada. O caminho até o aeroporto foi tranqüilo, apesar do trânsito pesado que enfrentaram. O motorista – graças a Deus – parecia mudo e tinha bom gosto musical. Ela fez o check in sem pressa e sem fila, enquanto via desaparecer num emaranhado de esteiras a gigantesca mala preta. Afastou-se um pouco, em direção a um café. Pediu um pão de queijo e uma coca. E, de repente, nem sabia mais porque estava ali... Pensou na proposta que recebera e aceitara depois de titubear um pouco e entendeu que esta viagem havia começado há muito tempo. Ela já estava viajando, desde o dia em que decidiu mudar sua vida. E, naquela altura do campeonato, nem importava mais o destino. Céu de brigadeiro e dias felizes era tudo o que podia desejar daquele momento em diante...

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