terça-feira, 26 de março de 2013

Um quadro




Morte súbita.
Caminhar por chão de brasas.
Choques elétricos.

Ela podia imaginar milhões de maneiras de torturar aquele homem até que ele pedisse água. Ela lhe daria um gole. Nada mais que isso. Um gole. Uma única gota para que ele pudesse estar quase confiante, quase confortável. Ele sorriria em agradecimento e ela iniciaria a sessão de torturas novamente. Lento. Bem devagar. Até que ele pedisse água novamente. Ela faria um pequeno intervalo para que ele pudesse respirar com alívio. Para que ele pudesse piscar os olhos molhados. Ela lhe daria uns três segundos para que ele relaxasse os músculos. E quando ele pensasse que já estava livre de seu calvário, ela recomeçaria tudo outra vez.

Bem devagar.

Ela podia ouvir os gritos que ele daria enquanto durasse seu sofrimento. Podia ver os olhos dele suplicando perdão. Ela podia sentir cada músculo dele retesado, em frangalhos. Ele curvado...quase um ancião. Mas nas idéias dela de punição e de castigo bateu um vento morno que vinha do mar. E ao invés de ouvir os gritos tresloucados dele, o que lhe chegou aos ouvidos foram as promessas feitas. Ela cerrou com força os olhos, mas não a tempo de evitar que visse os dele: olhos de menino. As mãos dela tateavam os braços dele, perdidas nos aclives de cada músculo, na poça de cada esforço.

O pecado lhe pertencia.
E ela pode entender que a dor era somente dela.
Raios elétricos.
Águas profundas.
E o sorriso dele em todas as paredes.

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