Se eu somar duas de mim o resultado vai ser um desastre à enésima
potência. Eu acho. Sim, porque eu vou passar a misturar com você a minha febre.
E, olha, de febre eu entendo. Suor nas têmporas. E escorre. Descendo de encontro
ao que eu fui um dia: menina comportada, sentada na cadeira da sala de espera
com os joelhinhos juntos por baixo do vestido. O rosto ruborizado, o olhar
baixo, o sorriso tímido. Mas, agora, com esse calor que me rompe as amarras...
não vai ter jeito. Não vai ter saída. Te agarro antes da porta. Derrubo você na
sombra do batente e pulo por cima. Jump.
Eu sempre gostei disso. E você me olhando com essa cara de quem é você?, ainda vai pensar que tudo tem um sentido, afinal... Se
eu somar dois de você eu não tenho nada. Soma de zeros. Porque você só é quando
eu estou por perto. Quando eu saio, você deixa de existir. Vou esperar só mais
cinco horas. Se você não desligar esse telefone e escorregar a mão por baixo da
minha saia, eu vou me levantar e vou-me embora. E aí você vai ter tempo para
visitar seu passado e contar migalhas. É só o que você poderá guardar de mim. E
meu peito arfando no decote. Meus olhos de raio X encontram os fios que ligam
um telefone a outro dentro da parede. Passo a mão pela minha nuca e você
percebe que não estará a salvo por muito tempo. E tempo é tudo o que você não
tem agora. Cruzo a perna. Sempre a direita por cima da esquerda. E a saia
escorrega um pouco mais pelas minhas coxas. Você percebe e perde um pouco da
concentração. De onde está, estuda minha cintura e sorri. Fala qualquer bobagem
e desliga o telefone. Olha e caminha em minha direção. Dois mais dois é igual
ao céu.
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