terça-feira, 26 de março de 2013

Matemática






Se eu somar duas de mim o resultado vai ser um desastre à enésima potência. Eu acho. Sim, porque eu vou passar a misturar com você a minha febre. E, olha, de febre eu entendo. Suor nas têmporas. E escorre. Descendo de encontro ao que eu fui um dia: menina comportada, sentada na cadeira da sala de espera com os joelhinhos juntos por baixo do vestido. O rosto ruborizado, o olhar baixo, o sorriso tímido. Mas, agora, com esse calor que me rompe as amarras... não vai ter jeito. Não vai ter saída. Te agarro antes da porta. Derrubo você na sombra do batente e pulo por cima. Jump. Eu sempre gostei disso. E você me olhando com essa cara de quem é você?, ainda vai pensar que tudo tem um sentido, afinal... Se eu somar dois de você eu não tenho nada. Soma de zeros. Porque você só é quando eu estou por perto. Quando eu saio, você deixa de existir. Vou esperar só mais cinco horas. Se você não desligar esse telefone e escorregar a mão por baixo da minha saia, eu vou me levantar e vou-me embora. E aí você vai ter tempo para visitar seu passado e contar migalhas. É só o que você poderá guardar de mim. E meu peito arfando no decote. Meus olhos de raio X encontram os fios que ligam um telefone a outro dentro da parede. Passo a mão pela minha nuca e você percebe que não estará a salvo por muito tempo. E tempo é tudo o que você não tem agora. Cruzo a perna. Sempre a direita por cima da esquerda. E a saia escorrega um pouco mais pelas minhas coxas. Você percebe e perde um pouco da concentração. De onde está, estuda minha cintura e sorri. Fala qualquer bobagem e desliga o telefone. Olha e caminha em minha direção. Dois mais dois é igual ao céu.

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