quarta-feira, 27 de março de 2013

Para sempre Paris



Da janela ela podia ver o Sena, desenrolando devagar e, ao fundo, a Torre Eiffel. Da cozinha, o cheiro doce de croissant que acabava de sair do forno. Era assim cada sábado, o dia em que ele voltava para casa. O dia em que as viagens de trabalho se interrompiam para que ela pudesse se aninhar nos braços dele. A preguiça ainda estava dentro dela e teimava em sair. A calcinha branca de algodão se enrolava um pouco na cintura, cada vez que ela girava na cama, fazendo hora para levantar. O relógio marcava 7 horas da manhã e o sol já estava morno. Corria pelas tábuas do assoalho, brincando pelas frestas. Silêncio total. Flores no jardim. O vinho na geladeira. Os queijos esperando. Ela encheu a banheira e mergulhou. O cigarro aceso esquecido no cinzeiro sobre o criado-mudo. Óleo de banho. Sais. Devagar. Um arrepio. Ela cantarolou, entre dentes: La bohème, la bohème, On était jeunes, on était fous, La bohème, la bohème, Ça ne veut plus rien dire du tout... Os olhos fechados. Mais um suspiro. A toalha branca e macia. Gotas de água pelo corpo nu que caminhava pelo quarto. Ela se abaixou e puxou debaixo da cama a mala. Esvaziou suas gavetas e seu armário. Antes de fechar a mala, guardou dentro dela um porta-retrato com uma foto dele. Cadeado. O espelho que revelava uma mulher nova, vestida de azul. Ela ajeitou o batom, as meias e os saltos altos. Seus sapatos faziam barulho no assoalho. A escada que rangia. A porta que se abriu para o inesperado. O taxi até o aeroporto. Passagem de ida e volta, no caso de se arrepender. Voar.

Ele chegou perto das 6 da tarde. Abriu a porta já sorrindo, antecipando o abraço, o beijo, o olhar. Passou pelo batente sem já saber onde trancar sua ansiedade, mas deu com um croissant ainda dentro do forno. Descarregou suas malas na sala da lareira. Abriu as portas que davam para a varanda e para o Sena, que tinha a torre ao fundo. Subiu devagar a escada que rangia pensando em não acordá-la. Deu com o quarto vazio. Sob o abajur, um bilhete: Sempre teremos Paris.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quero saber sua opinião.