terça-feira, 12 de março de 2013

Enleio




Talvez porque eu não soubesse mais o que era profético eu tenha recostado em tantas cabeceiras. Tantas bobeiras que se faz quando se recebe um agrado. Ou uma migalha, o que é a mesma coisa. Mas eu ainda olho para você e vejo todos juntos num espelho que enquadrei em riga e pendurei nos vales da minha memória. Meu copo de veneno guardado para daqui a pouco, para daqui um pouco. Por pouco não me perco neste devaneio durante esta reunião de gravatas enfadonhas que fazem meus olhos girarem sem sair da órbita.Voltamos a ser crianças? Brincamos de esconde-esconde? Ou é só mais um susto que a nova gramática e essas redes de relacionamento sem relacionamento me pregam. Você, que já foi meu messias de cabelos esvoaçantes numa praia deserta e paradisíaca, agora arrasta suas cruzes deixando sulcos no asfalto da maturidade. Lembra da nossa música? Eu não. Já tentei, mas não consigo me lembrar. Quando exijo muito da memória, ela me traz um você cantarolando, mas o vento do nosso passado encobre tua voz e só sobram os sulcos dos teus joelhos nas tuas calças jeans. Quando exijo pouco, me vem você em várias caras diferentes, como se você fosse muita gente, uma desgraça ou um apogeu. Queria ser Moira para fazer linhas retas ao invés de me vestir com a roupa de gala da confusão. Mas agora não é possível: a gravata da outra ponta da mesa me pergunta qualquer coisa, eu concordo e sorrio.


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