Talvez porque eu não soubesse
mais o que era profético eu tenha recostado em tantas cabeceiras. Tantas
bobeiras que se faz quando se recebe um agrado. Ou uma migalha, o que é a mesma
coisa. Mas eu ainda olho para você e vejo todos juntos num espelho que
enquadrei em riga e pendurei nos vales da minha memória. Meu copo de veneno
guardado para daqui a pouco, para daqui um pouco. Por pouco não me perco neste
devaneio durante esta reunião de gravatas enfadonhas que fazem meus olhos
girarem sem sair da órbita. Voltamos a ser crianças? Brincamos de
esconde-esconde? Ou é só mais um susto que a nova gramática e essas redes de
relacionamento sem relacionamento me pregam. Você, que já foi meu messias de
cabelos esvoaçantes numa praia deserta e paradisíaca, agora arrasta suas cruzes
deixando sulcos no asfalto da maturidade. Lembra da nossa música? Eu não. Já
tentei, mas não consigo me lembrar. Quando exijo muito da memória, ela me traz
um você cantarolando, mas o vento do nosso passado encobre tua voz e só sobram
os sulcos dos teus joelhos nas tuas calças jeans. Quando exijo pouco, me vem
você em várias caras diferentes, como se você fosse muita gente, uma desgraça
ou um apogeu. Queria ser Moira para fazer linhas retas ao invés de me vestir
com a roupa de gala da confusão. Mas agora não é possível: a gravata da outra
ponta da mesa me pergunta qualquer coisa, eu concordo e sorrio.
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