para G.R.G.
Setembro de 2004
Bem que o Robertinho (Pompeu de Toledo) poderia escrever um manual do
amor. Fora ele e o Jabor, não posso lembrar de mais ninguém que esteja apto a
escrever sobre qualquer assunto com a clareza e a maestria necessárias para a
comunicação escrita que, no final, acaba sendo a melhor forma de interação
entre nós, sobreviventes das angústias a que nos submete o coração.
Sim, um trabalho a quatro mãos e 10.000 cabeças, porque estes homens
iluminados não devem ter somente um cérebro cada.
Quem sabe, juntando a genialidade de ambos pudéssemos ter um manual
do amor ou o tal livro definitivo para amar ou quem
sabe, ainda: deixe de ser tolo, rapaz.
Ainda lembro do Jabor dizendo que “você
vai entrar pela porta que eu deixei entreaberta. Há meia hora que eu não
descolo os olhos da luz néon que se filtra como um prenúncio da sua chegada”.
Me arrepio com a descrição do Robertinho
da entrada da casa do José Dirceu ao receber o Coronel. Comecei a ler o
texto na Veja e pensei que ele ia
contar uma estória de amor...
Sorry pelo engano...
Mas talvez o encontro desses monstros pudesse resolver, de plano, a
temática que faz (de verdade) girar o mundo. Sim, porque eles falam muito bem
sobre política, sobre gente, sobre qualquer coisa, mas todos esses são assuntos
secundários em vista do que reserva para todos nós e para cada um o coração que
levamos no peito.
Aquele coração consumido pelo desejo (Jabor), aquele coração quieto,
suspenso na espera (Robertinho), um coração amargurado na dor da solidão
(Robertinho), ou o tal coração dilacerado com a dor do abandono (Jabor).
Pensando bem, que eles também temperem o tal manual com um pouco de Nelson
Rodrigues, pois não há como se falar de amor sem ser um pouco rodriguiano (e,
claro, quase sempre, um pouco brega).
Talvez este texto deles pudesse vir com um passo-a-passo, ou montado em
um organograma que resolvesse questões como:
§
Beijo ou não beijo ?
§
Ligo ou não ligo ?
§
Convido ou não convido ?
§
Amo ou escondo ?
§
Morro ou mato ?
Mas agora, que somos todos tão modernos e temos essa coisa toda de TI
(tecnologia da informação), as questões a serem acrescentadas seriam:
§
Dou meu e-mail ou não dou ?
§
Arrumo um e-mail diferente (só para receber aquelas mensagens) ou deixo cair
tudo na caixa de entrada profissional ?
§
Escaneio aquela poesia linda daquele livro
esgotado do Vinícius ou digitalizo a foto da Torloni?
§
Envio o CD pelo motoboy ou mando o arquivo
daquela música do Roberto (ou da Elis) em MP3?
§
Descarrego o arquivo de minha câmera digital e
envio, ou fico lambendo as fotos de papel ?
Os monstros devem saber todas as respostas.
Devem saber, inclusive, se devemos preferir as cartas perfumadas, com a
letra cuidadosamente posta entre linhas imaginárias do papel em cor pastel ou a
urgência gélida de um e-mail que caminha entre satélites pelo espaço sideral.
Nada de esperar o carteiro ? Somos reféns eternos da TI? E olha o grau
estratosférico de ansiedade aí, gente !
Isso sem falar naquela coisa de telefone com câmera fotográfica, que se
usa para mostrar seu sorriso imediato ou a paisagem que se desenha na sua
frente.
Os monstros devem saber como é difícil para nós, a geração balzaquiana
atual, que está no exato limite temporal, entre o telefone com fio e o celular
mundial com câmera digital, ou seja, todos nós que estamos no exato ponto que
divide sublimemente a lucidez da loucura.
Conheço gente que anda com dois celulares. Um para trabalhar e outro hotline. Quando conhecem alguém
realmente interessante, acabam dando o número dos dois. E no mundo tecnológico
orgasmóico de urgência, se perdem pela vida, pois agora esperam o amado ligar
em todas as linhas, inclusive nas
fixas. Ou seja, a espera pela ligação do amado, que antes, se detinha àquele
aparelho preto e pesado com fios entranhados na parede, passou a ser uma espera
elevada a milhonésima potência . Isso é que é escravidão tecnológica.
Outras pessoas, que sob protesto e com algum atraso entraram para a moda
dos celulares no século passado, compraram (à época) o modelo mais cheio de
ti-ti-ti. Mas a TI é invencível, insaciável, veloz e, às vezes (leia-se quase
sempre), implacável. E o que aconteceu é que o aparelho ficou velho muito
rápido. Por conta de enviar e receber mensagens escritas pelo celular, compram
novos aparelhos sem nunca saber se a mensagem do seu amor chegará.
Pois é, meus deuses, vocês bem que poderiam ajudar esses mortais em nome
dos quais eu falo. Vocês poderiam nos salvar dessa roda-viva em que nos metemos
(ou nos meteram?).
Poderiam nos dizer se a ética e a moral sempre mudaram tão rápido, ou se
tudo isso é resultado de muita televisão de massa.
Dizer, também, se não tem problema mesmo essa coisa de homem muito mais
velho com mulher muito mais nova. Então porque eles sempre piram? Porque viram que nossa bundinha é mais
durinha do que a da ex-mulher? Ou seria porque eles pensam que nós somos
máquinas de sexo e eles não estão a fim de tomar Viagra? (quem foi que colocou
essa idéia na cabeça deles?) Ninguém disse para eles que o mais importante é o
carinho; e que sexo bem feito não quer dizer sexo feito várias vezes em uma
noite (Deus nos livre daqueles que gostam de sexo como gostam de aulas de
bodypump – com aquelas repetições infinitas sem sentido e sem qualidade).
Vocês, nossos deuses do olimpo tupiniquim, poderiam dizer para eles que qualidade, carinho,
atenção e dedicação total é a chave da estória (nossa !, isso ficou meio Casas Bahia, mas tudo bem...). Quem sabe
assim, deuses-gênios, com o tal manual,
possam esses senhores de mais idade acreditar que podem ter mulheres de trinta e
poucos anos (eu inclusive).
Mas vocês, deus Robertinho e deus Jabor, não podem esquecer que tem o
outro lado da estória: as mulheres maduras e os mocinhos. Nem me falem da Gabi
com o Giane, porque não vale. Estou dizendo sobre gente comum. Gente de carne e
osso que não vive sob holofotes.
Tenho certeza que, somente vocês, monstros sagrados, poderiam resolver
através do tal manual o problema
daquela moça de quase quarenta que se envolve com o rapaz de muito menos de
trinta. Ou seria o contrário (ele que se envolveu com ela?).
Bem, isso nem importa nesta altura do campeonato. O que importa é que os
malditos celulares não tocam. Os e-mails não chegam. E os corações ficam assim,
assim.
E minha pergunta é: quem tem mais preconceito com tais relações? A
mulher, o homem ou a torcida do Flamengo?
E então, como todas as estórias têm três versões, espero ansiosamente
pelo destino que vocês vão dar a todos nós, participantes festivos do sagrado
cortejo de adoradores de gênios. Nós pedimos socorro. Pedimos o tal manual e, certamente, um pouco de
conforto.
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